segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Crônica Cotidiana de Celeste Martinez

Crônica cotidiana de Celeste Martinez


No balção da Pizzaria quando entra um casal de jovens, que locomovendo-se com desenvoltura no salão, caminhou em minha direção sorridentes.
- Como vai, Celeste Martinez? Disse o rapaz.
Ao escutar meu nome sendo pronunciado pela boca de um estranho, espanto-me e pergunto:
- Você me conhece?
- Sim.
- De onde?
- Vários lugares. Conheço a tua poesia.
À medida que escutava e fixava o olhar no rosto jovial do homem, meu cérebro fazia conecções tentando o reconhecimento. Seu rosto parecia familiar apesar da barba cheia que camuflava sensivelmente os traços fisionômicos. A maneira de falar e o modo como se referia ao meu trabalho enquanto escritora, era quase garantido que nos conhecíamos de algum lugar.
Onde?
A moça, que o acompanhava estava em sintonia com o assunto e deixava transparecer a alegria por conversar comigo. Foi quando escapou da boca do rapaz a frase “ Sarau na Uneb”.
Eureka! Era o rapaz que falou comigo em certa ocasião quando absorvida na contemplação de um cajueiro, aguardava o horário para o meu curso de inglês em um bairro nobre da cidade.
- Você, é o rapaz que conversou comigo. Disse e imediato obtive a resposta afirmativa.
- Aquele dia, me rendeu uma crônica.
Sua expressão tranformou-se em surpresa.
- Você estava tão absorvida na contemplação do galho do cajueiro que caía do muro do vizinho, que me chamou atenção. Ele falou.
Agora escutando-o, compreendi o motivo da mobilização do moço em falar comigo, naquela manhã ensolarada. Imagina quanta abstração para levantar curiosidade. Fiquei ao mesmo tempo rubra de vergonha e vaidosa. Estava alí, diante de mim, o moço que a nove meses atrás, ao saudar-me, tratou-me como escritora. A emoção foi tamanha que escrevi um breve relato, gravei e postei em minha página do Alacazum palavras para entreter no you tube.
A ida dele na pizzaria, um acontecimento inusitável, destrambelhou em mim uma compulsividade em falar. Eu queria dizer tudo que senti naquele momento quando ele me considerou escritora sem me conhecer amiúde. Eu precisava mostrar-lhe o resultado da minha produção literária. Ele tinha que escutar a minha voz, dizendo somente a verdade da minha alegria. Peguei o dispositivo móvel e busquei anciosa o meu canal. Lá estava. Abri.
Que sensação estranha poder mostrar para alguém que me inspirou, o texto, fruto desse encontro, mesmo que seu nome não seja citado na composição. Sim, até aquele momento só ele me reconhecia.
Naquele momento isso não contava para mim.
Quem importa o nome?
Após apreciar o vídeo, ele disse:
- Você ganhou mais um seguidor, Celeste Martinez. Gostei do seu canal.
O mesmo falou a moça que o acompanhava.
Quando eles sairam eu fui novamente bisbilhotar o vídeo em que relato o encontro, agora com novo olhar e um novo sentimento de conforto por ter resistido e construído a minha marca em mim mesma. Para chegar a síntese em ser poeta, escritora, artista, eu tive que trocar o manual de instrução por uma verdade que é só minha ou como diz os versos de Fernando Pessoa “ retirar as tintas com que me pintaram os sentidos e ser eu” . Eu, a escritora, Celeste Martinez.


Valença, Bahia, 28 de outubro de 2017

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