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domingo, 11 de dezembro de 2016

domingo, 20 de dezembro de 2015

Na 429° edição do Alacazum Palavras Para Entreter


Na 429° edição do programa radiofônico Alacazum Palavras Para Entreter, apresentado pela escritora e locutora Celeste Martinez e que foi ao ar no dia 15 de novembro de 2015, das 8 às 9 h de domingo, transmissão ao vivo Rio Una FM 87,9 apoio cultural Jornal Valença Agora, Colégio Social e Pizzaria Os Martinez. Tendo como base o poema: Confidência do Itabirano de Carlos Drummond de Andrade, conduzimos o programa para falar da tragédia ocorrida em Minas Gerais com o rompimento das Barragens de Fundão e Santarém pela Mineradora Samarco.

Confidência do Itabirano

Alguns  anos vivi em Itabira.
Principalmente vivi em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oito por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que a vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.

E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil;
este São Benedito do velho santeiro  Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma  fotografia na parede.
Mais como dói!

Carlos Drummond de Andrade

O tema foi sobre a tragédia em Minas Gerais com o rompimento das Barragens de Fundão e Santarém



Na 429° edição do programa radiofônico Alacazum Palavras Para Entreter, apresentado pela escritora e locutora Celeste Martinez e que foi ao ar no dia 15 de novembro de 2015, das 8 às 9 h de domingo, transmissão ao vivo Rio Una FM 87,9 apoio cultural Jornal Valença Agora, Colégio Social e Pizzaria Os Martinez. Baseado no poema: Confidência do Itabirano de Carlos Drummond de Andrade conduzimos o programa para falar da tragédia ocorrida em Minas Gerais com a destruição das Barragens de Fundão e  Santarém da Mineradora Samarco. A primeira cidade a ser afetada com o derramento da lama contaminada com metais pesados foi Bento Rodrigues.


O rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana (MG), em 5 de novembro, causou um dos maiores desastres ambientais da história do Brasil e deixou pelo menos 11 mortos, 12 desaparecidos e mais de 600 desabrigados. Os 62 milhões de metros cúbicos de lama despejados morro abaixo – que poderiam encher 25 mil piscinas olímpicas – percorrem um trajeto de mais de 500 quilômetros devem desaguar no mar do Espírito Santo nos próximos dias. Vales e rio, como o Doce, foram extremamente afetados.
Retirado do site:  ZH notícias

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Caso de recenseamento, de Carlos Drummond de Andrade

Na 423° edição do programa radiofônico Alacazum Palavras Para Entreter, apresentado pela escritora e locutora Celeste Martinez e que foi ao ar no dia 4 de outubro de 2015 das 8 às 9 h transmissão ao vivo Rio Una FM 87,9, cujo tema: Censo, tendo como música base Consenso, da Banda Escola Pública, de Cachoeira, Bahia. Indagamos do público, ouvinte-leitor, a seguinte pergunta: Qual a cor da sua pele?



CASO DE RECENSEAMENTO

O agente do recenseamento vai bater numa casa de subúrbio longínquo, aonde nunca chegam as notícias.

Não quero comprar nada.

Eu não vim vender, minha senhora. Estou fazendo o censo da população e lhe peço o favor de me ajudar.

Ah moço, não estou em condições de ajudar ninguém. Tomara eu que Deus me ajude. Com licença, sim?

E fecha-lhe a porta.

Ele bate de novo.

O senhor, outra vez?! Não lhe disse que não adianta me pedir auxílio?

A senhora não me entendeu bem, desculpe. Desejo que me auxilie mas é a encher este papel. Não vai pagar nada, não vou lhe tomar nada. Basta responder a umas perguntinhas.

Não vou responder a perguntinha nenhuma, estou muito ocupada, até logo!

A porta é fechada de novo, de novo o agente obstinado tenta restabelecer o diálogo.

Sabe de uma coisa? Dê o fora depressa antes que eu chame meu marido!

Chame sim, minha senhora, eu me explico com ele.

(Só Deus sabe o que irá acontecer. Mas o rapaz tem uma idéia na cabeça: é preciso preencher o questionário, é preciso preencher o questionário, é preciso preencher o questionário) .

Que é que há? - resmunga o marido, sonolento, descalço e sem camisa, puxado pela mulher.

É esse camelô aí que não quer deixar a gente sossegada!

Não sou camelô, meu amigo, sou agente do censo.

Agente coisa nenhuma, eles inventam uma besteira qualquer, depois empurram a mercadoria! A gente não pode comprar mais nada este mês, Ediraldo!

O marido faz lhe um gesto para calar se, enquanto ele estuda o rapaz, suas intenções. O agente explica-lhe tudo com calma, convence-o de que não é nem camelô nem policial nem cobrador de impostos nem enviado de Tenório Cavalcanti. A idéia de recenseamento, pouco a pouco, vai se instalando naquela casa, penetrando naquele espírito. Não custa atender ao rapaz, que é bonzinho e respeitoso.

E como não há despesa nem ameaça de despesa ou incômodo de qualquer ordem, começa a informar, obscuramente orgulhoso de ser objeto, pela primeira vez na vida, da curiosidade do governo.

O senhor tem filhos, seu Ediraldo?

Tenho três, sim senhor.

Pode me dizer a graça deles, por obséquio? Com a idade de cada um?

Pois não. Tenho o Jorge Independente, de 14 anos; o Miguel Urubatã, de 10; e a Pipoca, de 4.

Muito bem, me deixe tomar nota. Jorge... Urubatã... E a Pipoca, como é mesmo o nome dela?

Nós chamamos ela de Pipoca porque é doida por pipoca.

Se pudesse me dizer como é que ela foi registrada...

Isso eu não sei, não me lembro.

E, voltando-se para a cozinha:

Mulher, sabes o nome da Pipoca?

A mulher aparece confusa.

Assim de cabeça eu não guardei. Procura o papel na gaveta.

Reviram a gaveta, não acham a certidão de registro civil.

Só perguntando à madrinha dela, que foi quem inventou o nome. Pra nós ela é Pipoca, tá bom?

Pois então fica se chamando Pipoca, decide o agente. Muito obrigado, seu Ediraldo, muito obrigado, minha senhora, disponham!

Fonte: Livro Para Gostar de Ler, Crônicas, ed. Didática,
Carlos Drummond de Andrade, SP, Ática, 1978



quinta-feira, 11 de junho de 2015

Memória, de Carlos Drummond de Andrade


Na 404° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER apresentado pela escritora Celeste Martinez, no dia 24 de maio de 2015 das 8 às 9 h transmissão ao vivo Rio Una FM 87,9, apreciamos o poema: Memória, na voz de seu autor, Carlos Drummond de Andrade.

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.


As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas, ficarão.

Carlos Drummond de Andrade



quinta-feira, 4 de junho de 2015

Infância de Carlos Drummond de Andrade

Na 402° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 10 de maio de 2015, das 8 às 9 h transmissão ao vivo Rio Una FM 87,9 cujo tema versou sobre o Dia da Mãe, apreciamos a poesia:Infância na voz de Carlos Drummond de Andrade.

Infância

Meu pai montava a cavalo ia para o campo
Minha mãe ficava sentada cosendo
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... não acorde o menino
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro, que susto.

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que a minha história
era mais bonita que a de Robson Crusoé.

Carlos Drummond de Andrade

domingo, 25 de janeiro de 2015

Memória, de Carlos Drummond de Andrade


 Na 387° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 25 de janeiro de 2015, das 8 às 9 h transmissão ao vivo Rio Una FM 87,9, cujo tema: Memória, contamos com a presença da professora Jamile Guerra- que ministra aulas no Ensino Fundamental I do Colégio Social- parceiro cultural do Alacazum. Para esta edição foi criado crônica pela escritora e apresentadora do programa, especialmente para contextualizar o tema e apreciamos a voz de Carlos Drummond de Andrade, recitar o poema: Memória.

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

terça-feira, 1 de abril de 2014

" E eu não sabia que a minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé"


Celeste Martinez contando história para as crianças do Colégio Social de Valença-BA 
parceiro cultural do Alacazum palavras para entreter.


No dia 31 de março de 2014, o Alacazum palavras para entreter - programa radiofônico voltado para o incentivo a leitura, com mais de oito anos de atuação na cidade de Valença Ba e conquistado edital do Governo Federal - MinC como Ponto de Leitura no Brasil, conforme publicação em Diário Oficial da União Portaria 92 de 18 de dezembro de 2008, que vai ao ar aos domingos das 8 às 9 h, transmissão ao vivo 87,9 Rio Una FM - foi convidado pelo Colégio Social de Valença- BA instituição de ensino privado, para abrilhantar a abertura do Projeto: Leitura e Companhia. A professora Leo Porto, que fez o convite, pediu para contar uma história. Pensei: que história poderia prender a atenção das crianças sendo criativa e inovadora? A caminho fui pensando e na cabeça apareceu o livro: Robinson Crusoé de Daniel Defoe. Logo em seguida a poesia: Infância de Carlos Drummond de Andrade. Pronto, estava apreendido a ideia. Levei o livro de poesia do Drummond e muitas alegrias no coração. Ao apresentar-me , a professora Leo Porto perguntou quantas crianças ali conheciam o programa Alacazum palavras para entreter. E para surpresa, muitas levantaram os braços. Até, que Cláudio Paulo - filho do Defensor Público Carlos Vasconcelos Maia Filho e Tati, levantou-se dizendo que conhecia e foi ele que anunciou a minha chegada. Quanta emoção. E foi assim, entre a leitura de Infância de Drummond que introduzi a minha história, digo, a história fascinante do Alacazum palavras para entreter.

" E eu não sabia que a minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé " Carlos D. Andrade 

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Escutamos: José com Paulo Diniz

Na 278° edição do programa radiofõnico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 19 de agosto de 2012, das 8 ás 9 da manhã, transmissão ao vivo Rio Una FM 87,9 apreciamos a música: José com Paulo Diniz.

sábado, 18 de junho de 2011

Na 223° edição do ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER

Na 223° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 12 de junho de 2011, transmissão pela Rio Una Fm 87,9 apreciamos o belíssimo poema: As sete faces do amor de Carlos Drummond de Andrade


Eu te amo por que te amo
Não precisas ser amante
E nem sempre sabes sê-lo
Eu te amo por que te amo
Amor é estado de graça
E com amor não se paga.

Amor é dado de graça
É semeado no vento
na cachoeira, no eclipse
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários

Eu te amo por que não amo bastante
ou demais a mim
Por que amor não se troca
não se conjuga nem se ama
Por que amor é amor a nada
Feliz e forte em si mesmo

Amor é primo da morte
E da morte vencedor
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Infância, de Carlos Drummond de Andrade

Celeste Martinez- apresentadora do ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER com o livro: Carlos Drummond de Andrade- Antologia Poética- este livro pertence ao KIT PONTOS DE LEITURA conquistado pelo ALACAZUM quando do I CONCURSO PONTOS DE LEITURA 2008: HOMENAGEM A MACHADO DE ASSIS do GOVERNO FEDERAL.


Na 219° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia15 de maio de 2011, transmissão pela Rio Una FM 87,9 cujo tema: Dia Internacional da Família, apreciamos a poesia: Infância de Carlos Drummond de Andrade.

Infância

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé.
Comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da sensazala - e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... Não acorde o menino
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.


Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

E AGORA JOSÉ?, PAULO DINIZ

Na 206° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 06 de fevereiro de 2011, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 Khz AM, cujo tema: Poemas que viraram música, apreciamos: E agora José? , poema Carlos Drummond de Andrade, musicado por Paulo Diniz.



E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José ?

e agora, você ?

você que é sem nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama protesta,

e agora, José ?

Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José ?

E agora, José ?

Sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio - e agora ?

Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora ?

Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse…

Mas você não morre,

você é duro, José !

Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja a galope,

você marcha, José !

José, pra onde ?