Mostrando postagens com marcador Augusto dos anjos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Augusto dos anjos. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Poema: A Ideia de Augusto dos Anjos


Na 404° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER apresentado pela escritora Celeste Martinez, no dia 24 de maio de 2015 das 8 às 9 h transmissão ao vivo Rio Una FM 87,9, apreciamos o poema: Ideia de Augusto dos Anjos na voz de Othon Bastos.

A Ideia

De onde ela vem? De que materia bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?

Vem da psicogénetica e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!

Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica...

Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente,  e quase morta, esbarra,
No mulambo da língua paralítica.

Augusto dos Anjos


sábado, 7 de junho de 2014

Poema: A Lágrima, de Augusto dos Anjos


Na 353° edição do Alacazum Palavras Para Entreter, apresentação da escritora e locutora Celeste Martinez e que foi ao ar no dia 1 de junho de 2014 das 8 às 9 h da manhã, transmissão 87,9 Rio Una FM, cujo tema: Recitar Bulas de Medicamentos, apreciamos a poesia: A Lágrima, de Augusto dos Anjos.

A Lágrima

Faça-me o obséquio de trazer reunidos
Clorureto de sódio, água e albumina...
Ah! basta isto, porque isto é que origina
a lágrima de todos os vencidos.
A farmacologia e a medicina
com a relatividade dos sentidos
desconhecem os mil desconhecidos segredos
dessa secreção divina.
O farmaceutico me obtemperou -
vem-me então a lembrança o pai ioiô
na ânsia psiquica da última eficácia
e log a lâgrima em meus olhos caí.
Ah! vale mais lembrar-me eu de meu
pai do que todas as drogas da fármacia.

Augusto dos Anjos

sábado, 15 de outubro de 2011

Vandalismo, de Augusto dos Anjos

Na 240 edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER, que foi ao ar no dia 9 de outubro de 2011, transmissão Rio Una FM 87,9 apreciamos os versos de Augusto dos Anjos.

Vandalismo

Meu coração tem catedrais imensas
templos de priscas e longíncuas datas,
onde um nume de amor, em serenata
canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogina fúlgida e nas colunatas
vertem lustrais irradiações intensas
cintilações de lâmpadas suspensas
e as ametistas e os florões e as pratas.

Como os velhos templários medievais
entrei um dia nessas catedrais
e nesses templos claros e risonhos

E erguendo os gládios e brandindo as hastas
no desespero dos iconoclastas
quebrei a imagem dos meus próprios sonhos.

Augusto dos Anjos

sábado, 4 de setembro de 2010

NA 186° edição do ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER

Na 186° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 29 de agosto de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM apreciamos os versos de Augusto dos Anjos intitulado: Versos de Amor.

Parece muito doce aquela cana.
Descasco-a, provo-a, chupo-a... ilusão treda!
O amor, poeta, é como a cana azeda,
A toda a boca que o não prova engana.


Quis saber que era o amor, por experiência,
E hoje que, enfim, conheço o seu conteúdo,
Pudera eu ter, eu que idolatro o estudo,
Todas as ciências menos esta ciência!


Certo, este o amor não é que, em ânsias, amo
Mas certo, o egoísta amor este é que acinte
Amas, oposto a mim. Por conseguinte
Chamas amor aquilo que eu não chamo.


Oposto ideal ao meu ideal conservas.
Diverso é, pois, o ponto outro de vista
Consoante o qual, observo o amor, do egoísta
Modo de ver, consoante o qual, o observas.


Porque o amor, tal como eu o estou amando,
É Espírito, é éter, é substância fluida,
É assim como o ar que a gente pega e cuida,
Cuida, entretanto, não estar pegando!


E a transubstanciação de instintos rudes,
Imponderabilíssima e impalpável,
Que anda acima da carne miserável
Como anda a garça acima dos açudes!


Para reproduzir tal sentimento
Daqui por diante, atenta a orelha cauta,
Como Mársias - o inventor da flauta -
Vou inventar também outro instrumento!


Mas de tal arte e espécie tal fazê-lo
Ambiciono, que o idioma em que te eu falo
Possam todas as línguas decliná-lo
Possam todos os homens compreendê-lo!


Para que, enfim, chegando à última calma
Meu podre coração roto não role,
Integralmente desfibrado e mole,
Como um saco vazio dentro d'alma!


Fonte: www.biblio.com.br