domingo, 23 de março de 2008

QUADRO: A HORA DA POESIA

Apreciamos o poema "Margens" de Raimundo Fontenele, nascido em Pedreiras- MA, no dia 28 de agosto de 1948. Hippie nos anos 60, militante de esquerda nos anos 70. Raimundo Fontenele é uma espécie de poeta goliardo ou vagante moderno, cuja poesia tem pontos de confluência com a poesia hippie, beat, pé-na-estrada, de Allen Ginsberg e Jack Kerouac. É um dos fundadores do movimento Antroponáutica.

Margens




O pequeno animal, não nascido
para coisas absurdas.
Fome de todas as cores: a originalidade.
O demônio pinta com palavras
as crateras da lua, as ruas
por onde se desce.
Vais passar uma noite de cão.
Vais sentar sobre o formigueiro.
Vais te enrolar em palavras e novelos.
O vento a velocidade a pêra
enchem-me de náusea
a boca do estômago
a pêra o vento a velocidade
à boca do estômago
náusea pêra vento
à toda velocidade: ah, as pêras
do Ferreira
Vida de artista e prostituta
Vida de artista ou marginal
Vida de artista é tudo igual
Então vida é só isso?
Uma pedra no meio do caminho?
O barco azul, os passarinhos do Quintana,
migalhas, migalhas, migalhas?
Deus no pasto?
O diabo no inferno?
O homem na enxada enterrando vítimas?
Vida é menos que isso: a barata na sala,
o temor do vizinho, um barulho estúpido,
o gole de vinho?
Nadas, coisinhas, titicas
vida vida vida
Quer saber mais sobre o Fontenele?

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