sábado, 15 de maio de 2010

Só mesmo trepando em árvore



Na 174° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 09 de maio de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM desfrutamos da leitura: Só mesmo trepando em árvore, retirado do livro: Proseando- causos do Brasil de Rolando Boldrin. Este livro utilizado pelo ALACAZUM faz parte do KIT PONTOS DE LEITURA conquistado pelo ALACAZUM quando do I CONCURSO PONTOS DE LEITURA 2008: HOMENAGEM A MACHADO DE ASSIS DO MINISTERIO DA CULTURA.

Esse é um causo muito antigo. Muito antigo, mas muito bom. Pois, como sempre, envolve a sagacidade do caipira que eu tanto gosto de contar.
Aconteceu na época da revolução dos mineiros e paulistas, que a gente não gosta de lembrar, porque irmão brigar com irmão é coisa muito feia. Onde já se viu? Mas naquele tempo, eles brigaram feio!
Pois bem. Vinha por uma estrada o nosso personagem. Um caipira que não queria nada com essa briga que eu falei. E ele era paulista. Estava, portanto, em território dele. Eis que surge um punhado de guerrilheiros, que o nosso caipira pensou ser de procedência paulista. Engano! Era uma turma de mineiros á procura de paulista pra móde descer, como lá diz o outro, o cacete!
Ao chegar perto do capiau, um dos integrantes do grupo de mineiros perguntou:
Mineiro_ Ocê aí, capiau? Ocê é paulista ou mineiro?
Caipira (pensando que eram paulistas)- Ué. Eu sô polista quiném ocêis. To na minha terra.
Foi só falar que era paulista e já receber a primeira paulada da turma. E daí se seguiu um punhado de soco e pontapé, até deixarem o coitado estendido.
Dali a pouco, já refeito e cheio de hematomas, lá vai o nosso caipira pela estrada, quando surge agora outro grupo. Desta vez, de paulistas.
Paulista_ Ocê aí, caipira duma figa. Ocê é paulista ou mineiro?
Caipira (pensando que era outro grupo de mineiros): Eu? Eu sô das Minas Gerais, uai!
Foi só falar e receber uma pancada surda de cacete bem dada. E, como antes, porrada pra cá e pra lá, de todo o jeito. Lá ficou o nosso bom capiau quase que desacordado.
Dali a pouco, lá estava ele, pela estrada, andando até com certa dificuldade, quando avista outro grupo de guerrilheiros se aproximando. Mais do que depressa, procura uma árvore frondosa e nela se atrépa pra se esconder da turma, pois já não saberia se era um grupo de paulistas ou de mineiros. E apanhara de novo era o que ele não queria.
Pois bem. Ficou ali atrepado, escondido, esperando que os marvado passassem direto. Ma qual! Pararam justamente embaixo da tal árvore para descansar ou fumar um cigarro de palha.
De repente, um dos guerrilheiros, olhando distraidamente para o alto, ali descobre o nosso capiau atrepado. Chama a atenção do grupo e, em voz de comando, pergunta ao capiau asperamente:
Guerrilheiro_ Ocê ai! Oh, capiau duma figa. Diga para gente aqui: ocê é paulista ou mineiro? Heim?
Para a surpresa de todos – e alegria de quem gosta muito de um causo-, nosso capiau responde com voz tremida?
Caipira- Heim? Eu... eu... sou... sou... Eu sou FRUITA!

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