quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

As três irmãs

Na 204° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 16 de janeiro de 2011, transmissão pela Rádio CLube de Valença 650 Khz AM, apreciamos a narrativa do livro: A árvores que canta, o pássaro que fala e a fonte que rejuvenesce. Segunda parte:


As três irmãs


Era uma vez, na antiga Pérsia, no país dos tapetes voadores e das mil maravilhas, um poderoso sultão que se sentia muito solitário. Ocupado em governar o reino e em cuidar de suas riquezas, ele havia deixado o tempo passar, esquecendo de se casar. Mas, com a idade chegando, ele começou a imaginar como seria bom ter uma companheira e filhos para alegrar o restante de seus dias.

Assim, decidiu disfarçar-se de vendedor de tapetes e percorrer os seus domínios em busca de uma esposa. Carregou duas mulas com mercadorias, montou no seu belo cavalo e começou a viagem. Um dia, ao atravessar uma região desolada e sentindo muita sede, ele aproximou-se de uma casa humilde para pedir um pouco de água fresca. Sem querer, ouviu atrás da porta a conversa de três irmãs que ali moravam.

A mais velha estava contando:

-Esta noite, sonhei que estava casada com o cozinheiro do palácio e que comia as mesmas delícias que servem ao sultão...

A segunda acrescentou:

-Pois eu sonhei que estava casada com o mordomo do sultão e que vestia belos trajes de seda, como os que usam no palácio...

- E você, irmãzinha, o que sonhou? - perguntaram á mais jovem.

-Sonhei que estava casada com um vendedor de tapetes e que tínhamos dois belos meninos e uma linda garotinha.

As mais velhas riram dela:

-Como você é boba, contenta-se com um simples vendedor de tapetes! Assim nunca melhorará de vida!

Curioso com aquela conversa, o sultão quis ver de perto as três moças e gritou do lado de fora:
-Tapetes, tapetes de lã de ovelha e de pêlo de camelo, os mais coloridos e os mais baratos, liiiiindos tapetes!

Atraídas pela voz do falso vendedor, as moças abriram a porta e convidaram a mostrar sua mercadoria.

Ao entrar na casa, o sultão ficou surpreso com a formosura das três donzelas, mas logo se encantou com a mais nova: seus olhos brilhavam como estrelas toda vez que ele olhava para ela.

Enquanto as irmãs mais velhas admiravam os belos tapetes estendidos no chão, a mais moça foi até o poço buscar água fresca. Encheu um copo com a bebida e, vermelha como uma rosa, ofereceu-o timidamente ao viajante.

Seduzido pela gentileza da moça, ele perguntou-lhe onde estavam seu pai e sua mãe. Com uma sombra de tristeza na voz, ela respondeu que haviam morrido já havia alguns anos. Comovido, o sultão decidiu tirar o disfarce e ofereceu a sua proteção ás três jovens.

Quando ele deixou cair o longo casaco negro de mercador revelando as brilhantes vestimentas reais bordadas de fios de ouro e pedras preciosas, as irmãs mais velhas largaram os tapetes e rapidamente se aproximaram dizendo:

- Mas que honra para nossa humilde casa, poderoso senhor! - e ajoelharam-se diante dele.
O sultão, então, disse:

- Enquanto estava parado diante de sua casa, ouvi sem querer os seus desejos e resolvi realizá-los - e continuou, olhando para as duas irmãs mais velhas: - Como queriam, uma se casará com o meu cozinheiro e a outra desposará o meu mordomo.

As duas pularam de alegria e beijaram os seus pés em agradecimento.

Mas a felicidade das duas logo desapareceu quando ouviram o que ele disse á irmã mais nova:
-E você, que queria casar com um vendedor de tapetes, aceitaria ser a minha sultana?

Sem conseguir falar de tanta surpresa, a jovem murmurou: - Sim!- e colocou sua mão na mão estendida do sultão. As mais velhas ficaram pasmas e quase engasgaram de tanta inveja.

Montado no seu cavalo e com a noiva na garupa, o sultão apaixonado saiu cavalgando em direção ao palácio, enquanto as duas cunhadas seguiam atrás, montadas nas mulas que carregavam os tapetes. Corroídas pelo ciúme, elas não se cansavam de reclamar da irmã caçula:
- Onde já se viu, nós, as mais velhas, seremos suas domésticas... Que será que ele enxergou nela? Deve ter sido algum feitiço, algum pó mágico que a fingida colocou na água que lhe ofereceu. Não fosse por isso, ele teria escolhido uma de nós!
Cegas de raiva e de vaidade, fizeram um pacto de vingança. Mas, temerosas do poder do cunhado, decidiram fingir que estavam muito felizes e agradecidas para que ninguém pudesse desconfiar dos seus planos...

Chegando ao palácio, as três irmãs logo se casaram, a mais velha com o cozinheiro, a do meio com o mordomo e a caçula com o sultão. Com o passar dos dias, a inveja e o desejo de vingança cresciam cada vez mais no coração das irmãs da jovem sultana. Assim, alguns meses depois, quando ela engravidou, as duas malvadas insistiram para serem as suas parteiras. A sultana, que gostava das irmãs e não desconfiava de nada, achou uma boa ideia e o sultão, querendo agradar a esposa, autorizou que assim fosse.

Entretanto, pouco tempo antes do nascimento, o sultão precisou viajar para resolver um assunto de Estado. Sua mulher, então, deu à luz a um lindo menino. Enquanto descansava, as irmãs embrulharam o seu filhinho num simples pedaço de pano e o jogaram num velho cesto que puseram nas águas do rio que passava nos fundos do palácio.
Voltaram com um filhote de macaquinho cuidadosamente vestido com as roupinhas do enxoval do principezinho e o entregaram sem uma palavra à pobre mãe. Esta, confusa, não sabia o que pensar nem o que dizer e, por sua vez, entregou o macaquinho ao marido, que acabava de voltar. Muito espantado, o sultão preferiu acreditar em algum fenômeno sobrenatural. Gostava muito da esposa e, ao vê-la tão aflita, resolveu aceitar o fato.



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