Celeste Martinez
Violeta Martinez
Meu amigo Anacleto
Violeta Martinez
Meu amigo Anacleto
Há coisas que põem a gente fora dos eixos e desafiam paciência de santo. Uma delas é contar um caso a Anacleto. Vocês não conhecem Anacleto e eu não vou dizer muito sobre ele para não identificá-lo, pelo que naturalmente todos já descobriram que lhe dei um nome suposto. Direi apenas que Anacleto é um rapaz direito, amável, trabalhador, é um poço de virtudes. Mas, como ouvinte, é de morte! Outro dia conversávamos e veio a talho de foice contar-lhe um caso:
- Lembrei-me agora de um caso curioso ocorrido comigo há alguns anos. Eu saía do antigo cinema "Glória"...
- Quantos anos tem isso?
- Não me lembro bem... Mas já tem muitos anos...
- Diga um número aproximado...
- Sei lá... Uns quinze anos talvez...
- Então não pode ser. Nesse tempo o cinema já se chamava "Tamoio".
- Não. Quando aconteceu o caso de que me lembrei, o nome do cinema ainda era "Glória". Tenho certeza.
- Então você está fazendo errada a conta dos anos...
- Ora, isso não tem importância...
- Como não tem importância?
- Para o desenvolvimento do caso, não tem nenhuma. Qualquer que fosse o nome do cinema, o fato era que eu saía de lá...
- Mas eu ainda vou procurar saber em que ano exatamente foi que o " Glória" virou "Tamoio". E lhe direi...
- Pois, muito bem, faça sua pesquisa. Agora, quanto ao caso, você está ou não interessado em que eu o conte?
- Claro que estou. Conte.
- Como eu estava dizendo, eu saía do cinema quando encontrei o Tibúcio...
- Que Tibúcio?
- Tibúcio, filho do velho Teodorico...
- Sei. Mas não era filho: é sobrinho...
- Como, sobrinho, senhor? Pois se eu já o ouvi chamar várias vezes o Teodorico de pai!...
- Chama, porque foi criado por ele. Mas o pai é outro. Mora em Minas Gerais...
- Vá lá que seja...
- Pode assegurar que é.
- Está bem. Mas o fato é que encontrei o Tibúcio...
- Não interrompendo, o Teodorico era um sujeito sovina danado, não era?
- Nunca reparei nisso.
- Então você não conheceu o velho Teodorico...
- Ora se conheci! Pois se fui até vizinho dele!
- Onde?
- Na Rua das Flores.
- Não é "das Flores": é Rua Flores, em homenagem a Flores da Cunha...
- Não seja teimoso, homem! Pois se eu morei na rua e todo dia olhava a placa!
-
Nenhum comentário:
Postar um comentário