segunda-feira, 15 de outubro de 2007

QUADRO: A HORA DA CRÔNICA

Celeste Martinez

Violeta Martinez



Meu amigo Anacleto



Há coisas que põem a gente fora dos eixos e desafiam paciência de santo. Uma delas é contar um caso a Anacleto. Vocês não conhecem Anacleto e eu não vou dizer muito sobre ele para não identificá-lo, pelo que naturalmente todos já descobriram que lhe dei um nome suposto. Direi apenas que Anacleto é um rapaz direito, amável, trabalhador, é um poço de virtudes. Mas, como ouvinte, é de morte! Outro dia conversávamos e veio a talho de foice contar-lhe um caso:

- Lembrei-me agora de um caso curioso ocorrido comigo há alguns anos. Eu saía do antigo cinema "Glória"...

- Quantos anos tem isso?

- Não me lembro bem... Mas já tem muitos anos...

- Diga um número aproximado...

- Sei lá... Uns quinze anos talvez...

- Então não pode ser. Nesse tempo o cinema já se chamava "Tamoio".

- Não. Quando aconteceu o caso de que me lembrei, o nome do cinema ainda era "Glória". Tenho certeza.

- Então você está fazendo errada a conta dos anos...

- Ora, isso não tem importância...

- Como não tem importância?

- Para o desenvolvimento do caso, não tem nenhuma. Qualquer que fosse o nome do cinema, o fato era que eu saía de lá...

- Mas eu ainda vou procurar saber em que ano exatamente foi que o " Glória" virou "Tamoio". E lhe direi...

- Pois, muito bem, faça sua pesquisa. Agora, quanto ao caso, você está ou não interessado em que eu o conte?

- Claro que estou. Conte.

- Como eu estava dizendo, eu saía do cinema quando encontrei o Tibúcio...

- Que Tibúcio?

- Tibúcio, filho do velho Teodorico...

- Sei. Mas não era filho: é sobrinho...

- Como, sobrinho, senhor? Pois se eu já o ouvi chamar várias vezes o Teodorico de pai!...

- Chama, porque foi criado por ele. Mas o pai é outro. Mora em Minas Gerais...

- Vá lá que seja...

- Pode assegurar que é.

- Está bem. Mas o fato é que encontrei o Tibúcio...

- Não interrompendo, o Teodorico era um sujeito sovina danado, não era?

- Nunca reparei nisso.

- Então você não conheceu o velho Teodorico...

- Ora se conheci! Pois se fui até vizinho dele!

- Onde?

- Na Rua das Flores.

- Não é "das Flores": é Rua Flores, em homenagem a Flores da Cunha...

- Não seja teimoso, homem! Pois se eu morei na rua e todo dia olhava a placa!

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