domingo, 11 de novembro de 2007

"O BEM SE PAGA COM O BEM" do Luís da Câmara Cascudo


















A onça caiu numa armadilha preparada pelos caçadores e, por mais que tentasse escapar, ficou prisioneira.
Resignara-se a morrer, quando viu passar um homem.
Chamou-o e lhe pediu que a libertasse.
- Deus me livre! – disse o transeunte. – Se você ficar solta, vai me devorar.
A onça jurou que seria eternamente agradecida, e o homem desatou as cordas que seguravam a tampa do alçapão e ajudou a onça a deixar a cova. Logo que esta se encontrou livre, agarrou seu salvador por um braço, dizendo: -Agora você é meu jantar. Debalde o homem pediu e rogou. A onça, finalmente, decidiu: -Vamos combinar uma coisa. Ouvirei a sentença de três animais. Se a maioria for favorável ao meu desejo, eu o como. O homem aceitou e saíram os dois. Encontraram um cavalo, velho, doente, abandonado. A onça narrou o caso. O cavalo disse: - Quando eu era moço e forte, trabalhei e ajudei o homem a enriquecer. Qual foi o meu pagamento? Largaram-me aqui para morrer, sem um auxílio. O bem só se paga com o mal. Adiante depararam-se com um boi. Consultado, opinou pela razão da onça. Contou sua vida de serviços ao homem e, quando julgava que ia ser recompensado, soube que fora vendido para ser morto e retalhado pelo açougueiro. O bem só se paga com o mal. O homem, triste, acompanhava a onça que lambia o beiço, quando viram um macaco. Chamaram o macaco e pediram seu parecer. O macaco começou a rir. E saltava, fazendo caretas e rindo. A onça ia-se zangando: - Por que tanta risada, camarada macaco? - Não é fazendo pouco- explicou o macaco- é que eu não acredito que o homem caísse na armadilha que ele mesmo preparou. - Ele não caiu. Quem caiu fui eu- contava a onça. - Foi você? Então como é que esse homem fraquinho pôde libertar um bicho tão grande e forte como a camarada onça? A onça, despeitada pelo macaco julgá-la mentirosa, foi até o alçapão e saltou para o fundo do fosso, gritando lá de baixo: - Está vendo? Foi assim! Mais que depressa o macaco empurrou o engradado de varas pesadas que fazia de tampa e a onça tornou a ficar prisioneira. -Camarada onça – sentenciou o macaco - O BEM SÓ SE PAGA COM O BEM . E você fez o mal, receba o mal. E se foi embora com o homem, deixando a onça na armadilha.

Do livro: Contos tradicionais do Brasil para crianças de Luís da Câmara Cascudo

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