segunda-feira, 17 de junho de 2013

Leitura da crônica de Celeste Martinez


Na 304° edição do Alacazum palavras para entreter que foi ao ar no dia 9 de junho de 2013 das 8 às 9 h da manhã de domingo, transmissão ao vivo Rio Una FM 87,9 apreciamos a leitura da crônica da escritora e apresentadora do Alacazum, Celeste Martinez, publicada no Jornal Andada.


Cada cabeça um mundo ou o mundo de cabeça pro ar
Evidente que o ritmo da vida está cada dia mais dinâmico, empurrando indiscriminadamente as pessoas à execução de tarefas exaustivas e programadas. O espaço físico nos sufoca. Diminuem-se as áreas de lazer. As ruas feitas para humanos são residências permanentes de automóveis, motocicletas, bicicletas, carros alegóricos de camelôs e vendedores de CDs piratas. Passeios se estreitam e pedestres têm que conviver com o descompasso em andar com um pé na calçada e o outro na pista. Os quintais paulatinamente desaparecem dando lugar a longos corredores cimentados que se alongam longitudinalmente e ascendentemente. A temperatura eleva-se devido a excessivos desmatamentos. Sufoca-nos o ar porque além de aspirar monóxido de carbono, absorvemos traumas ocasionados pela desumanização e o oportunismo do mercado converte em palavra comercial a isto que se intitulou “violência”. O relógio biológico é modificado a cada estação em detrimento da regularidade dos serviços prestados. Até a maturação dos alimentos é acelerada em função do mercado. Crianças “pecam” tornando-se pigméias adolescentes. Jovens infladas de hormônios e silicones metamorfoseiam-se em fictícias mulheres. Mulheres, descamam, despelam, depilam, ingerem, escalpelam e injetam multi laboraticidas para mascarar a velhice inaceitável. Idosos, são facilmente iludidos com falsos favorecimentos de fila preferencial, passagem gratuita e medíocres elogios de melhor idade.
As comunicações excederam o tempo e o espaço. Tudo se descontrolou em função desta vertiginosa rapidez. Até o vocabulário mudou. Mutila-se a língua madre e novos assessórios gráficos são introduzidos para uma efêmera comunicação na janela virtual. Diante da tela estamos seguros. É o espaço que te garante um milhão de amigos e a solidão ao mesmo tempo. Internalizou-se facilmente o conceito de que o tempo urge que o tempo é ouro, que o tempo é dinheiro, em não se perder tempo. Daí a impaciência e não aceitar nanos atrasos. Tudo está a serviço da máquina de consumo que produz em série. Esterilizam-se os touros; ordenham-se freneticamente as vacas; desmamam-se precocemente os bezerros para abate. Somos produtos do mercado e produtos para o mercado. O lixo vai além da capacidade dos espaços de armazenamento por que alimentamo-nos do supérfluo ou quando nos alimentamos com o conteúdo da virtualidade, o prazer é sempre a fome.
Alguns aguardam o apocalipse com o livro sagrado nas mãos. Outros esperam que o grito lançado a mais de dois mil anos seja escutado.  E há os que não se deixam iludir por falsas promessas de paraíso. Em meio a esta nebulosa massa humana, a vida continua a bailar seu ritmo. E eu, a poetizar meu cântico.
Celeste Martinez
 Escritora, Idealizadora, produtora e apresentadora do programa radiofônico Alacazum palavras para entreter, que vai ao ar aos domingos das 8 às 9 da manhã, transmissão ao vivo Rio Una FM 87,9 / Blog: alacazum.blogspot.com


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