Na 304° edição do Alacazum palavras para entreter que foi ao ar no dia 9 de junho de 2013, das 8 às 9 da manhã de domingo, transmissão ao vivo Rio Una FM 87,9, apreciamos: A lenda das Areias.
Vindo desde as suas origens, nas distantes montanhas, após passar por inúmeros acidentes de terreno nas regiões campestres, um rio finalmente alcançou as areias do deserto. Do mesmo modo como vencera as outras barreiras, tentou atravessar esta de agora, mas deu-se conta que, mal suas águas tocavam a areia, nela desapareciam.
Estava convicto, no entanto, de que fazia parte de seu destino cruzar aquela tórrida vastidão, embora encontrasse dificuldades em fazê-lo. Então, uma voz misteriosa, saída da própria imensidão arenosa, sussurrou:
- O vento cruza o deserto, o rio pode fazer o mesmo.
Ele objetou estar arremessando-se contra as areias, sendo, assim, absorvido, enquanto o vento podia voar, conseguindo, desta maneira, passar incólume.
- Arrojando-se com violência, como vem fazendo, não conseguirá cruzá-lo. Assim, desaparecerá ou irá transformar-se num pântano. Deve permitir que o vento o conduza ao seu destino.
- Mas como isso pode acontecer?
- Consentindo em se absorvido.
Tal sugestão sera inaceitável para o rio. Deixar-se absorver/ Não desejava perder a sua individualidade. Caso isto acontecesse como saber se a recuperaria mais tarde?
- O vento desempenha essa função - Disseram as areias - Eleva a água e a conduz, deixando-a cair depois, na forma de chuva, para converter-se em rio outra vez.
- Como posso ter certeza?
- Pois assim é. Se não acredita, jamais será outra coisa, a não ser um pãntano e, mesmo isto, levaria muitos e muitos anos. E um pãntano não é, certamente, a mesma coisa que um rio.
- Mas não posso continuar sendo o mesmo rio que sou agora?
- Você não pode, em caso algum, permanecer assim- Retrucou a voz.
Ao ouvir tais palavras, certos ecos começaram a ressoar nos pensamentos mais profundos do rio. Recordou vagamente um estágio em que ele, ou uma parte dele, não sabia qual, fora transportada nos braços do vento. Também lembrou, ou lhe pareceu assim, de que era isso o que devia fazer, conquanto não lhe parecesse a coisa mais natural.
Então, o rio elevou seus vapores nos acolhedores braços do vento, que suave e facilmente o conduziu para o alto e para bem longe, deixando-se cair tranquilamente, tão logo tinham alcançado o topo de uma montanha, milhas e milhas mais adiante. E, porque tivera suas dúvidas, o rio pode recordar e gravar com mais firmeza em sua mente os detalhes daquela experiência. E ponderou:
- Sim. Agora conheço minha verdadeira identidade.
O rio estava fazendo seu aprendizado, mas as areias sussurraram:
- Nós temos o conhecimento porque vemos essa operação ocorrer dia após dia. Nós, as areias, nos estendemos por todo o caminho que vai desde as margens do rio até as montanhas.
E é por isso que se diz que o caminho do rio da vida está escrito nas areias.
Un poema de María Paula Alzugaray
Há 2 meses
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