sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Beijinho, beijinho




Na festa dos 34 anos da Clarinha o seu marido, Amaro, fez um discurso muito aplaudido. Declarou que não trocava a sua Clarinha por duas de 17, sabiam por que? Porque a Clarinha era duas de 17. Tinha a vivacidade, o frescor e, deduzia-se o fervor sexual somado de duas adolescentes.
No carro, depois da festa, o Marinho comentou:
- Bonito, o discurso do Amaro.
-Não dou dois meses para eles se separarem – disse a Nair
- O quê?
-Marido, quando começa a elogiar muito a mulher...
Nair deixou no ar todas as implicações da duplicidade masculina.
-Mas eles parecem cada vez mais apaixonados – protestou Marinho.
- Exatamente. Apaixonados demais. Lembra o que eu disse quando a Janice e o Pedrão começaram a andar de mãos dadas?
- É mesmo...
- Vinte anos de casados e de repente começaram a nadar de mãos dadas?
- È mesmo...
-E não deu outra. Divórcio e litigioso.
-Você tem razão.
- E o Mário com a coitada da Marli? De uma hora para outra? Beijinho, beijinho, “Mulher formidável” e descobriram que ele estava de caso com a gerente da loja dela.
-Você acha então, que o Amaro tem outra?
- Ou outras.
Nem duas de 17 estavam fora de cogitação.
-Acho que você tem razão, Nair. Nenhum homem faz uma declaração daquelas assim, sem outros motivos.
-Eu sei que tenho razão.
-Você tem sempre razão, Nair.
- Sempre, não sei.
- Sempre. Você é inteligente, sensata, perspicaz e invariavelmente acerta na mosca. Você é uma mulher formidável, Nair.
Durante algum tempo, só se ouviu, dentro do carro, o chiado dos pneus no asfalto. Aí Nair perguntou:
-Quem é ela, Marinho?


Luis Fernando Veríssimo

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