quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Fábula: O Sabiá e o Urubu



Na 187° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 05 de setembro de 2010, transmissão pela Rádio CLube de Valença 650 KHZ AM, homenagem aos 4 anos de existência do programa ALACAZUM, desfrutamos do mundo encantado das fábulas de Monteiro Lobato, retirado do livro: Sítio do Pica Pau Amarelo.


O Sabiá e o Urubu


Era à tardinha. Morria o sol no horizonte enquanto as sombras se alongavam na terra. Um sabiá cantava tão lindo que até as laranjeiras pareciam absortas à escuta.
Estorce-se de inveja o urubu e queixa-se:
- Mal abre o bico este passarinho e o mundo se enleva. Eu entretanto, sou um espantalho de que todos fogem com repugnância... Se ele chega, tudo se alegra; se eu me aproximo, todos recuam... ELe, dizem, traz felicidade, eu mau agouro....
A natureza foi injusta e cruel para comigo. Mas está em mim corrigir a natureza; mato-o, e desse modo me livro da raiva que seu gorjeios me provocam.
Pensando assim, aproximou-se do sabiá que ao vẽ-lo armou as asas para a fuga.
- Não tenha medo, amigo! Venho para mais perto a fim de melhor gozar as delícias do canto. Julga que por ser urubu não dou valor à obras-primas da arte? Vamos, lá cante! Cante ao pé de mim aquela melodia com que há pouco você extasiava a natureza.
O ingẽnuo sabiá deu crédito àqueles mentirosos grasnos e permitiu que ele se aproximasse o traiçoeiro urubu. Mas este, logo que o pilhou ao alcance, deu-lhe tamanha bicada que o fez cair moribundo.
Arquejante, com os olhos já envidrados, geme o passarinho.
- Que mal fiz eu para merecer tanta ferocidade?
- Que mal fez?É boa! Cantou!... Cantou divinamente bem, como nunca urubu nenhum há de cantar. Ter talento: eis o grande crime!...


A inveja não admite o mérito.



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