domingo, 27 de abril de 2008

QUADRO: A HORA DA POESIA

Nicolas Behr
A POESIA NÃO MORREU
ELA ESTÁ APENAS ENTERRANDO A GENTE.


Amorzinho
Amorzinho me deixou
Amorzinho tem um defeito:
não pode ver homem.


Aconteceu na 103
o porteiro do bloco i da 103
pegou a filha do sindico do bloco
o da 413 norte com o cara do
302 do bloco d da 209 sul
dentro do carro do zelador
do bloco f da 314 norte.


Vou regar o deserto com sangue
e chorar areia.



Manchete de 2001
objetos voadores
não identificados
sobrevoam a cidade
(eram duas borboletas)

Viva a poesia que liberta!
Viva a poesia que paga as contas
no final do mês!
Viva a poesia que não existe.


Quando minha veia poética
estourou, ela virou para mim
e disse: "deixa sangrar".

De dia corro com meus medos
à noite passeio com meus sonhos.


Não sou alegre
nem sou poeta
sou triste.

Nossa senhora do cerrado
protetora dos pedestres
que atravessam o eixão
às seis horas da tarde
fazei com que eu chegue
são e salvo na casa da Noélia.


Nicolas Behr, nasceu em Cuiabá em 1958. Seu primeiro livro: "Iogurt com farinha", lançado em 1977, em mimeógrafo vendeu 8 mil cópias de mão em mão. Até o ano de 1980 publicou 10 livros mimeógrafados.

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