segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Quadro: A hora do conto



Na 160° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 03 de janeiro de 2010, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM, apreciamos o conto: Dois cegos briguentos de Ricardo Azevedo.



Dois cegos briguentos
Versão de uma anedota popular



Os dois eram cegos. Um chamava Chico e o outro João. O primeiro era cantador e tocava viola. O segundo acompanhava no tambor, no pandeiro e no chocalho. Todos os dias, os dois iam para a praça perto da igreja, sentavam-se na calçada e tocavam para ganhar uma esmolinha. Todos os dias os dois brigavam.
─ Ô Chico, vê se canta direito, homem! Larga a mão de ser desafinado!
─E você que não consegue nem entrar no ritmo!
─Acerta o tom dessa viola, desgramado!
─Eta tamborzinho mal tocado!
─Cala a boca, bocoió de mola!
─Bocoió é a mãe, cego lazarento!
Um dia, um sujeito passou pela praça e resolveu brincar com os dois briguentos.
Chegou perto de um deles e disse:
─ Gostei muito da música. Vou deixar com você vinte reais, mas é para dividir entre os dois.
Falou mas não deixou nenhum dinheiro com ninguém.
Os dois cegos continuaram tocando, agora felizes da vida.
Quando a música acabou, o que cantava falou:
─Ô João, passa pra cá a metade dos vinte reais que o moço deu pra gente.
O outro ficou surpreso:
─ Que é isso, Chico? O moço deu o dinheiro foi pra você!
O cantador não gostou:
─ Deixa de ser besta, João, e me dê logo essa grana.
Mas o cego de nome Chico já se enfezou:
─ Que besta coisa nenhuma! Ta me estranhando, safado? Querendo me passar a perna?
E o outro:
─ Safado é você que tá mentindo pra ficar com o dinheiro todo!
E a conversa virou briga. João pegou o pandeiro e o atirou tentando acertar Chico. Chico agarrou a viola e a atirou tentando acertar João.
Foi quando o tal sujeito, que continuava ali perto, gritou:
─ Não! Cuidado! Pára! Com faca não!
Ouvindo isso, Chico pensou que João tivesse puxado uma faca. João pensou a mesma coisa.
Os dois briguentos então deram um salto, cada um para um lado, e saíram correndo, tropeçando, capengando e gritando socorro. Dizem que estão correndo até hoje.


Ricardo Azevedo – retirado do livro: Armazém do folclore que faz parte do acervo KIT PONTOS DE LEITURA conquistado pelo ALACAZUM no I CONCURSO PONTOS DE LEITURA 2008: HOMENAGEM A MACHADO DE ASSIS DO GOVERNO FEDERAL.




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