sábado, 3 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Publicado no Facebook dia 3 de junho de 2017

Sentada, em oficina, localizada à avenida Alisson Magalhães de Freitas ou avenida Beira Mar, na cidade de Valença, Bahia, aguardando o conserto da motocicleta, quando percebo que a pilastra de cimento, era divisória do olhar, aquela sucinta paisagem em um ângulo de cento e oitenta graus.
O Una, na estreiteza dos meus olhos, era apenas uma unidade da língua.
Não era o rio de turvas águas sujas, nem o rio atormentado.
Eu não via o Rio Una.
Eu via o Rio Branco, fechado. Como sinal da sua não mais existência.
Lembro, então do Alacazum e sua retirada do ar no dia 29 de janeiro de 2017 e após, quantas tormentas caindo sobre a cidade.
“ Yo no creo em brujas pero ...”
Alí, onde estão instaladas as inúmeras barracas dos trabalhadores informais, vulgo camelôs, é uma Praça.
Qual é mesmo o nome dela?
O Prédio do Poder Legislativo, antiga residência do Comendador Madureira, situado à rua homônimo, dizem as más línguas, está “ pra caír”.
Será?
Não creio que os nobres edis, usuários por direito, de tão nobre patrimônio, permitirá que as traças sejam mais operantes.
Bem, Valença, tem este prazer exarcebado por demolições.
Aqui, velho, é sinônimo de atraso.
Joga, fora no lixo? Escuto a música no carro.
Vejo um homem, entornando um líquido no Una. Lá do outro lado da margem onde ficam as canoas.
A Flamboyant, bem em frente, rente a pista. Em torno dela, não mais um canteiro, monturos de resíduos sólidos. Pobrezinha!
Um homem, passa, levando no cabresto, um bezerro.
Carros, bicicletas, motocicletas, pedestres, pedestres e mais pedestres.
Estico o corpo e vejo a lateral da Igreja do Sagrado Coração de Jesus ou Igreja Matriz, precisando reforma do telhado e das paredes.
Quem se comoverá com o Sagrado?
A sirene de alerta do caminhão em sua difícil manobra, nos adverte.
O céu todinho azul esmaecido com escassas nuvens, nos adverte.
Um homem, com a barriga estufada, carregando pesadas sacolas plásticas, nos adverte.
O caminhão, que segue via avenida Marita Almeida, carregadinho de toras de madeiras, nos adverte.
O painel que divulga propagandas, fixado bem na esquina entre a Ponte Luiz Eduardo Magalhães, doutor Rocha Leal e Barão de Jequiriça, nos adverte.
O carro forte todo amarelinho que atravessa a Ponte, nos adverte.
O grande kiskadi, com seu canto estridente, provavelmente, pousado na fiação elétrica, nos adverte.
A cidade, nos fala o tempo todo e mesmo assim nos acidentamos.
Mesmo assim, esquecemos o outro. Nosso vizinho.
Mesmo assim, esquecemos que o Una, é gente.
Eu, aguardando o atendente da oficina como finalização da crônica.
- O da senhora, tá pronto, venha! Disse o mecânico.



Valença, Bahia, 2 de junho de 2017

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