quinta-feira, 29 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

 Postado em minha página do Facebook, dia 21 de junho de 2017

Crônica cotidiana de Celeste Martinez

Quando na segunda-feira, 19 de junho de 2017, passei pelo Calçadão e constatei o esvazeamento de vendedores ambulantes, percebi logo, que algo drástico foi feito para “solucionar” as inúmeras críticas e insatisfações quanto a permanência daquelas trabalhadoras e trabalhores naquele local. Agora, retirar do Calçadão, para a Praça da Independência, menos de 50 metros de distância, na minha opinião tem a mesma conotação do provérbio popular: despiu um santo para cobrir outro.
Então, o que se percebe é :
“ o que não tem remédio, remediado está ”.
O que me aflige quando vejo o despreparo com o trato com o povo trabalhador é que não existe planejamento. É que só existe um esdrúxulo, plano A
Instalou-se nestes últimos meses um ódio virulento contra estes ambulantes como se sua expulsão fosse a medida perfeita de profilaxia.
Valença, Bahia, se resumiu no Calçadão.
Só vejo a expulsão dos ambulantes como solução, se resolvessem descentralizar o centro comercial.
Mais isso é impossível. Valença, Bahia, ainda vive o pensamento retrógrado em que a medida de crescimento é balizada de um poste a outro. Da casa de fulano até a casa de sicrano.
E o centro, é o Calçadão.
Por que o centro não poderia ser na periferia, abrindo um novo horizonte?
Governos anteriores, tentaram expulsar os ambulantes da Rua Dr. Rocha Leal, sem êxito.
Será inútil medidas que queiram organizar a área urbana. Por que Valença, Bahia, é fruto de uma colonização desorganizada. E não é o povo, o principal culpado. Por que antes do povo, vem o senhor de engenho, vem o dono da fazenda, vem os donos das terras do Una. Quem disse para o peão, construa minha casa aqui, foi o patrão. Quem disse para o escravo, lance estes toneis de excrementos humanos no Rio Una, foi o senhor de engenho.
O Calçadão, ficou sendo a verdade do centro comercial , que esquecemos que é espaço público.
E que a economia informal só pode se sustentar circulando nele.
O feio do Calçadão, não são os vendedores ambulantes com suas verduras, frutas, licores, brinquedos de madeiras, mariscos, artesanatos, etc.
O feio do Calçadão, é o piso, a falta de drenagem, o excesso de fiação, o desajuste das fachadas com suas propagandas. A deselegância nos acabamentos.
Se a questão, destas pessoas que pressionaram para uma tomada de decisão, na expulsão dos ambulantes do Calçadão, é o bem da cidade, então, que se inicie campanha para a erradicação do lixão, que está no Orobó, a revitalização da feira livre, um espaço físico novo, para o mercado do peixe, que se reclame o plantio das mudas que o Municipio firmou no ano passado, com o Ministério Público no termo de ajuste de conduta- TAC-, quando do corte da Castanheira-do-Pará, que se manifeste o desejo por tratamento de esgoto da cidade, uma biblioteca pública com espaço próprio, calçadas dignas para os transeuntes, etc.
A questão da insatisfação, na permanências dos vendedores ambulantes, no Calçadão, passa por fatores de gerenciamento de espaços públicos.
Onde está o Plano Diretor da cidade de Valença, Bahia ?
Existe?
Enquanto a Praça da República se veste para a festa junina, em uma época em que o comércio como um todo é beneficiado economicamente, uma náusea de tristeza paira sobre os trabalhadores da economia informal. Entre despir um santo para cobrir outro, só resta a música: Isto é lá com Santo Antonio.
E Valha-nos, São João e São Pedro! 


Valença, Bahia, 21 de junho de 2017

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