quinta-feira, 30 de abril de 2009

O julgamento da ovelha




Lido na 125° edição do ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 26 de abril de 2009, transmissão pela Rádio Clube de Valença AM.

Um cachorro de maus bofes acusou uma pobre ovelhinha de lhe haver furtado um osso.


- Para que furtaria eu esse osso – alegou ela – se sou herbívora e um osso para mim vale tanto quanto um pedaço de pau?


- Não quero saber de nada. Você furtou o osso e vou já levá-la aos tribunais.


E assim fez.


Queixou-se ao gavião penacho e pediu-lhe justiça. O gavião reuniu o tribunal para julgar a causa, sorteando para isso doze urubus de papo vazio.


Comparece a ovelha. Fala. Defende-se de forma cabal, com razões muito irmãs das do cordeirinho que o lobo em tempos comeu.


Mas o júri, composto de carnívoros gulosos, não quis saber de nada e deu a sentença:


-Ou entrega o osso já e já ou condenamos você à morte!


A ré tremeu: não havia escapatória!...Osso não tinha e não podia, portanto restituir; mas tinha a vida e ia entregá-la em pagamento do que não furtara.


Assim aconteceu. O cachorro sangrou-a, espostejou-a, reservou para si um quarto e dividiu o restante com os juízes famintos, a título de custas...



Retirado do Livro: Fábulas de Monteiro Lobato

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