sábado, 30 de agosto de 2008

Novamente as palavras

Alguém me perguntou: Haverá uma palavra? Palavras existem infinitamente. Evidente que existem palavras mas em determinados momentos melhor que não existissem. E isto me fez lembrar um fragmento do livro: Viagens de Gulliver

Modificando a linguagem

No departamento da linguística [...] outra equipe, ainda mais avançada, queria simplesmente extinguir as palavras para aumentar a vida média do homem. Cada vez que proferimos uma palavra, afirmavam seus membros, o ar sai dos pulmões e a vida se encurta. Com a extinção dos vocábulos, o homem deixaria de falar e viveria muito mais tempo. Como as palavras servem apenas para representar objetos, as pessoas passariam a levar numa bolsa reduzidas miniaturas dos elementos indispensáveis à conversação e as mostrariam simplesmente aos amigos, em vez de pronunciar palavras inúteis e encurtar tolamente a vida.

Esse projeto, exaustivamente discutido, apresentava ligeiro inconveniente: as pessoas ricas, donas de muitos objetos, precisariam carregar um número exagerado de miniaturas quando fossem visitar os amigos. O departamento de linguística, depois de várias reuniões, encontrou brilhante alternativa para o problema: ou os ricos contratariam empregados para carregar as miniaturas - o que não representaria qualquer problema- ou deixariam várias sacolas nas residências dos amigos mais íntimos, frequentadas, naturalmente, com mais regularidade.

Na opinião dos seus inventores, o novo sistema linguístico já teria sido adotado no mundo inteiro se houvesse mais empenho dos governadores, pois os objetos indispensáveis à vida são mais ou menos o mesmo em toda parte, e o moderno idioma acabaria certamente servindo de língua universal.


Swift, Jonathan, Viagens de Gulliver.
Trad. de Octavio Mendes Cajado. Rio de Janeiro, Ediouro, 1970, págs. 106- 108

Nenhum comentário: