domingo, 17 de agosto de 2008

Mulheres


Todas as mulheres fogem
Ameaçadas entram na jaula.
Apagam a luz da realidade e rezam
Cantam hinos de misericórdia
Rogam milagres
Abortam paixões sonolentas
E sangram homens.

Todas pensam o “EU” livre
Mas todas têm úteros.

Todas têm mães e são madres
Face da mesma face
Todas as mulheres são pares.

Todas estão feridas
E aguardam a chance do grito
Do canto
Do riso
Mas todas voltam para o quarto e por três estações ficam preenchidas.

Todas são estátuas da liberdade
E calabouços de amor.

Todas as mulheres vestem luto
Todas choram
Fingem o gozo
Matam o macho
E fazem aborto.

Todas as mulheres mentem
E falam verdades.

Todas são cruéis quando traídas
Quando iludidas
Quando menosprezadas.

Todas as mulheres matam
Um dia
Uma vida
Um amor
Uma chance
Um segundo de paixão.

E todas as mulheres envelhecem
Perdem o sabor
Ficam estéreis
Ressecadas e frias.

Todas as mulheres morrem
Por um fio – FILHO
Por uma ponte – HOMEM
E todas ressuscitam quando querem
Mas só algumas são virgens
Mártires.

Todas as mulheres são universos
Em terra
Em água
Em si
No talvez
Na certeza
Em sonho.

(Todas) PECAM
PADECEM

(São) SUBVERSIVAS
SUBMERSAS
SUBALTERNAS (mulheres)

Mas só algumas são damas
Rainhas
Esfinges
Um jogo.

Mulheres são
Mulheres vão
Mulheres não – COMEÇO.

Só mulheres gozam
Só mulheres parem
Só esposas são obedientes
Só amantes são eternas
Só VÊNUS amor
Só HELENA guerra.
Só CIRCE veneno
Só MEDUSA tormento

Só mulheres parem HOMENS
E mulheres amam HOMENS
E mulheres
E mulheres...
E mulheres...
Celeste Martinez – escritora
(retirado do livro: Valenciando – Antologia de escritores de Valença – Bahia – Brasil)

Um comentário:

Iran S. Santos disse...

Celeste, querida! Recitei este poema (Mulheres) no Saral da Resistência que fizemos na UFF na noite de quinta pra sexta (22-23 de setembro) e as pessoas te aplaudiram de pé. Foi lindo! Grande abraço! Saudades!