Apesar do alto grau de organização expressa nas sociedades de insetos, a exemplo das abelhas, cupins e formigas, não podemos comparar com os mesmos mecanismos que regem as sociedades humanas.
Uma colméia de abelhas, chega a reunir mais de cinqüenta mil indivíduos, que não sobreviveriam senão em grupo, enquanto que nas sociedades humanas, os relacionamentos mínimos entre três membros ou entre dois, não conseguem ser gerenciados nos menores obstáculos, a ponto de em muitos casos usarem métodos violentos para extinguir uns aos outros.
Embora tanto em uma sociedade quanto em outra, possamos presenciar sinais parecidos: como a luta e competição; divisão de atividades e funções. Por mais que as lutas físicas por alimento, água, luz, território sejam expressos de forma diferentes. Principalmente as demarcações de territórios, principio de todas as guerras existentes no mundo.
É evidente que as rivalidades entre as espécies não são recentes, é de sempre a agitação, o reboliço, a comichão ocasionada pela vida em favor da vida. Desde o micro dos elementos ao macro, nos deparamos com conflitos em prol da preservação da espécie. Segundo Darwin que vença o mais forte.
Hoje, me proponho a refletir sobre as interações entre os seres de uma determinada comunidade e me basearei nas relações ecológicas. Foi aí, neste ponto de apreensão do raciocínio que a mente vislumbrou uma imagem fantástica: um hipopótamo com a boca escancarada tendo Tchiluandas pousadas em seu interior, realizando faxinas entre seus dentes.
Quantos casos não podem ser apontados nas sociedades humanas?
E aí me lembrei do caso de “fulano” que se dispunha a realizar favores a "sicrano" e não a "beltrano". A síntese de minha analise foi de que entre "fulano" e "sicrano" havia uma afinidade ou conveniência que justificava a atitude deste em relação ao outro.
Seria uma relação harmônica?
No reino animal sem dúvida, mais se transportamos para as relações humanas seria uma troca de interesses. Levando-se em conta o modelo operacional que vigora no mercado onde o capital humano é valorizado pelo peso, cor e principalmente pela embalagem. Muito raramente pelo líquido que contém.
Uma outra forma de relação ecológica é da rêmora (ou peixe-piolho) e o tubarão. Quando o pequeno peixe se agarra nas ventosas do tubarão viabilizando o transporte e possível obtenção de alimentos, a rêmora se beneficia com a associação, enquanto que o tubarão aparentemente não obtém nenhum beneficio, embora não sofra prejuízo. Novamente nos deparamos nas sociedades humanas casos parecidos. É neste “convidar à mesa”, significado do termo comensalismo que se desenrola as teias das relações humanas.
Você já participou de uma relação comensal*?
Quem fazia o papel da rêmora?
Quem fazia o papel do tubarão?
Penso que nas relações ecológicas entre as espécies, estes tipos de associações seriam denominadas harmônicas, por que, diferente dos seres humanos, estes não depõem intenções em suas atividades trabalhistas. Alias não existe nem a idéia do que seja trabalho. Só os seres humanos podem racionalizar as ações das suas atividades físicas e psíquicas.
Os Tchiluandas ao extrairem dos dentes dos hipopótamos as migalhas de alimentos para sua sobrevivência não estão recebendo remuneração por isso, simplesmente exercem a ação que lhes possibilita alimentar-se. O mesmo ocorre com a rêmora. Ela não paga taxa de locomoção ou ticket restaurante. As plantas epífitas, a exemplo das orquídeas, bromélias e samambaias que vivem sobre os troncos de árvores não pagam mensalidades pelo condomínio. É assim em todas as relações ecológicas. Porém quando direcionamos a reflexão para as relações humanas surgem às intenções e sem sombra de dúvida podemos identificar o comensalismo desarmônico, perverso, carregado de intenções e interesses.
Você já participou de uma relação comensal*?
Quem fazia o papel da rêmora?
Quem fazia o papel do tubarão?
Celeste Martinez - Escritora
*Comensalismo - É um tipo de relação ecológica entre duas espécies que vivem juntas. O termo comensal significa algo como "convidado à mesa".
Nenhum comentário:
Postar um comentário