segunda-feira, 13 de outubro de 2008

História do Feijão II

Sua história tem registros tão longínquos quanto à Grécia Antiga, destacadas no artigo Cidades e Campos Gregos, de autoria de Marie-Claire Amouretti, onde há algumas menções de autores clássicos em que o feijão aparece ao lado de tradições da península balcânica como vinhos, queijos, figos e os grãos de trigo.

Não era, é claro, um alimento de regular utilização entre os helenos. Tanto é que não consta entre as heranças gastronômicas legadas pelos conterrâneos de Sócrates, Platão e Aristóteles aos romanos. Também estava presente entre os produtos vendidos nos mercados de Roma, a Cidade Eterna. Era, no entanto, apenas uma leguminosa a mais e não uma variedade verdadeiramente incorporada aos cardápios de então.

Novas histórias em que o feijão se torna protagonista voltam a aparecer somente na Idade Média. Nessa época essa leguminosa e também a fava, o grão de bico, o cizirão e a ervilha juntam-se ao centeio, a cevada, a aveia, ao sorgo, a espelta e ao milhete como concorrentes do trigo, o grande campeão de plantio durante o Império Romano. São alimentos considerados inferiores ao cereal de preferência dos romanos, no entanto exigiam menos cuidados em seu plantio e eram mais rentáveis em termos de produtividade.

O plantio de feijão entre os europeus medievais se verifica com maior incidência especialmente na baixa Idade Média. Há plantações espalhadas por toda a Europa, com maior destaque, no entanto, para as produções alemãs e inglesas. Sabe-se também que essa leguminosa era plantada tanto em campos abertos quanto em hortas. Essa particularidade quanto ao local de produção esclarece que o destino das safras variava, no primeiro caso destinando-se aos nascentes mercados das cidades medievais e, no segundo, das hortas, a subsistência dos camponeses.

No Império Bizantino a importância do feijão e de alguns outros alimentos, assim como as preocupações quanto aos direitos sobre a terra e a produção fizeram com que surgissem leis severas e punições duras a todos aqueles que ousassem invadir propriedades e roubar alimentos. Previam-se chicotadas, indenizações em valores de mercado para os produtos roubados (ou ainda pagando-se o dobro do prejuízo causado) e, se isso fosse impetrado por funcionários do dono das terras, esse trabalhador perderia o direito ao recebimento de seu salário.

A preocupação com as colheitas e também com o abastecimento de seus mercados levava os bizantinos a definir os períodos de plantio regular de seus alimentos, entre os quais se destaca a presença marcante do feijão, cuja semeadura deveria acontecer no mês de fevereiro, juntamente com cebolas, cenouras e alguns tipos de hortaliças. Essa determinação também esclarece que para os cristãos do Oriente a agricultura planejada era a garantia de estoques alimentares nos períodos de escassez. Nesse sentido o feijão, alimento que pode ser armazenado por um bom período de tempo, ganhava vulto na dieta bizantina.

Também os árabes fizeram uso regular do feijão como alimento a partir das definições de suas bases culturais na Idade Média. Não eram os feijões que seriam encontrados na América, mas sim variedades africanas e orientais, na maior parte dos casos, consumidas ainda verdes. São suplantadas nas dietas mulçumanas pelas lentilhas e favas e competem com as ervilhas enquanto alimento secundário. Foram formas encontradas pelos povos da antiga Ásia Menor para combater a escassez de cereais em seus períodos de entressafra. Seduzidos pelo sabor do feijão desde seus primórdios enquanto civilização, o mundo árabe sucumbe, anos depois, ao poder das variedades dessa iguaria importados da América também os incorporando ao seu cardápio. São tradições que se renovam.

Os judeus do medievo igualmente se apropriam do feijão verde e o incorporam a sua dieta. Fazem uso desse alimento para a produção de caldos, sopas e pães (utilizando-o enquanto legume seco). O feijão também é secundário na dieta semita (como já havíamos observado em sua trajetória histórica anterior, desde os gregos até os mulçumanos), tendo sido suplantado pelo grão de bico nas receitas locais. O importante é perceber que, apesar de estar sempre legado a um espaço discreto nos cardápios das civilizações anteriores à modernidade, o feijão existe e está presente nesse enredo.


Fonte:http://opensadorselvagem.org/gastronomia/antropofagia/uma-breve-historia-do-feijao.html

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