segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O feijão e o Sonho

Todos os dias aquela miséria... Maria Rosa estava de pé às cinco da manhã. Havia que pôr a casa em ordem, arrumar a sala de aulas, preparar o café, lavar os pequenos, vesti-los, passar roupa - " tenho um serviço de negra!" - e acordar o marido.
Era o mais difícil!
- Por que não deita mais cedo, seu tranca? Fica lendo feito idiota até não sei que horas, ou dando prosa com esses vagabundos, e depois, quando tem que fazer alguma coisa, pega no sono que nem Cristo acorda!
E resmungando e imprecando, vassourão aqui, pano molhado ali- "não mexa aí, menino!" - Maria Rosa continuava a peleja.
-Parece que eu caí da cadeira, no dia em que fiquei noiva desse coisa-à- toa! Pra ter esta vida! Pra passar vergonha!
Arrumou uma toalhinha de crochê no aparador humilde.
- Largue esse copo, Joãozinho! Largue já! Largue, estou dizendo!
E ameaçadora, para o garoto lambudo que sorria feliz:
- Menino! Menino! Ponha já o copo na mesa! Olhe o que estou dizendo!
O pequeno continuava a negacear com o corpo, o copo muito sujo, uma das mãos mergulhadas na água.
- Não molhe o chão, criatura! A gent vive feito uma burra, tentando limpar a casa, vem um coisinha desses emporcalha tudo! Você apanha, Joãozinho! Traga o copo aqui!
-Eu quelia bebê água!
-Não quer beber coisa nenhuma! Você quer é chunelo! Venha cá!
- A senhóia bate na gente!
-Não bato! Venha aqui direitinho, me entregue o copo, que a mamãe não bate.


Fragmento do romance "O Feijão e o Sonho" lido no programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER, em sua 99° edição.

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