domingo, 25 de maio de 2008

Auto-retrato

Este poema
que escrevo em uma casa a sós
sonha a convidado íntimo, a visita noturna.
A porta
se fechou a noite por fora
e o vento bate
na caixa do céu como um pássaro ferido
datas equivocadas, paredes rompidas,
nomes falsos para que ninguem responda
somente eu, o regressado.
Aqui
voou minha infância, refém de pássaros
e minha mãe chorou sem escutar-me
e o bastão da avó atravessou o pátio
tropecando entre tosses e jasmins.
A noite está
segue, se foi
e tudo segue caindo em um poço
e passa uma criança
jogando amarelinha por minha sombra
e uns olhos abertos que não olham
e um bastão que tropeça debaixo do céu
sonhando como um osso entre suas pedras.

No relógio de parede se enrosca o tempo
fecho os olhos e regresso
e a casa navega até o vazio.
Jorge Meretta - poeta Uruguaio
Na 82° edição do ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER fizemos a leitura do poema "Auto-retrato" do poeta Uruguaio Jorge Meretta. O poema foi traduzido do castellano para o português por Celeste Martinez

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