quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O GATO QUE NÃO SONHA MAIS


Li uma excelente reportagem sobre sonhos, onde conheci a história do gato que não sonhava. Ele houvera sido estudado; um eletroencefalograma, atado à cabeça, havia demonstrado que os gatos sonham como qualquer um de nós. Aliás, muita vez vi cachorros sonharem rosnando, grunhindo ou simplesmente levando sustos, como se atravessassem pesadelos. Mas jamais vi um gato sonhador. Este, todavia, sonhava e muito. Então, foi-lhe feita uma experiência neste mundo dos homens que se crêem, mesmo, os reis da criação, bem se alimentam de seres vivos e, quando querem fazer experimentos, lançam mãos de vidas pequeninas com se fossem deuses.
O cientista pegou o gato sonhador, fez “queimar” a zona cerebral, onde deveria estar a sede dos sonhos do bichano. E o gato curou-se da pequena intervenção. Não sonhou mais nunca, mas ficou um tanto perturbado, embora dormisse normalmente. Caçava acordado borboletas invisíveis, ou então tinha olhos bem abertos, e fantasiava ratos impossíveis. Absolutamente acordado parecia normal, sob outros aspectos, pois atendia pelo nome e continuava a ser um bichano afetivo e sensível. Três meses depois, o gato morreu. Os cientistas falaram em lesões nas glândulas supra-renais. E aí se propunha a questão: existe um elemento “físico” de depuração do organismo no sonho? Muitos médicos asseguram que sim. Que o sonho normal se torna necessário para que desatem todas estas vivências guardadas e sofridas num rebentar de aventuras que são o recado de nosso subconsciente à nossa consciência adormecida. Talvez sonhe a cronista, de menos. E por isso faça seus romances, exatamente como o gato que caçava borboletas invisíveis. Talvez a ficção seja mesmo, como querem o nosso sonho acordado e aquele gatinho patético, sacrificado pela ciência, fique um símbolo dos doidos mansos que sonham acordados e passam adiante as suas histórias... Ou crônicas.

Dinah Silveira de Queiroz


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