Na 131° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 7 de junho de 2009, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 Khz AM, fizemos a leitura do livro: Viagem ao céu do Monteiro Lobato em homenagem ao Ano Internacional da Astronomia.
Daquela brincadeira do telescópio nasceu uma idéia – a maior idéia que jamais houve no mundo: uma viagem ao céu! A coisa parecia impossível, mas era simplicíssima, porque ainda restava no bolso de Pedrinho um pouco daquele pó de pirlimpimpim que o Peninha lhe dera na viagem ao País das Fábulas. A quantia existente bastava para levar seis pessoas.
- O bom seria irmos todos – propôs a menina. – Todos menos vovó, coitada. Sofreu tanto lá com o Pássaro Roca, que bem merece um bom descanso-de-lagarto.
-Mas tia Nastácia não há de querer ir – lembrou Pedrinho. – É a maior das medrosas.
- Pois levemo-la à força – sugeriu Emília.
- Como?
- Muito fácil. Ninguém lhe diz nada dos nossos projetos. Na hora de partir, Narizinho faz cara de santa e lhe dá uma pitada do pó dizendo que é rapé. Ela adora rapé...
- Não está mal pensado – disse Pedrinho. – E o burro falante? Vai ou fica?
- Vai. –decidiu Narizinho. – Vamos ter muita necessidade dele na Lua. E se lá vive o cavalo de São Jorge, pode muito bem viver um burro.
Tudo muito bem assentado puseram-se a cuidar dos preparativos. Dessa vez Emília não pensou em levar a sua canastrinha. Levou outra coisa – uma coisa que ninguém pôde descobrir o que era. Um “bilongue” pequenininho, embrulhado em papel de seda e amarrado com um fio de lã cor-de-rosa. Narizinho insistiu em saber o que era.
- Não digo, não! – respondeu a boneca. – Se eu disser vocês caçoam. É uma idéia muito boa que eu tive...
No dia seguinte, bem cedo, levantaram-se na ponta dos pés e saíram para o terreiro, enquanto Narizinho se dirigia ao quarto de tia Nastácia. Tinha de enganá-la, mas como? Pensou, pensou e afinal, resolveu-se.
- Tia Nastácia! – gritou do lado de fora da janela. – Venha ver que manhã linda está fazendo!
A negra estranhou a novidade. Levantarem-se cedo assim não era comum, e ainda menos Narizinho convidá-la para “ver a manhã”, uma coisa tão à-toa para uma negra que se levanta sempre às cinco horas. Mas foi ao terreiro ver o que era, com aqueles resmungos de sempre. Lá encontrou todos reunidos em redor do Burro Falante e a cochicharem baixinho:
-Hum! Temos novidade – murmurou a preta consigo, já na desconfiança.
-Qual é a “peça” de hoje, Pedrinho?
- Nada, boba! Que peça havia de ser?
É que nos deu na cabeça levantarmos muito cedo para assistirmos ao nascer do sol e agora estamos brincando de espirrar com este rapé que arranjei na cidade.
- Rapé? Rapé? – repetiu a preta, que era doidinha por uma pitada de rapé. – Será daquele que o Coronel Teodorico, compadre de Dona Benta usa?
O Coronel Teodorico, fazendeiro vizinho de Dona Benta, aparecia por lá de vez em quando a visitá-la. Era compadre de Dona Benta, homem dos bem antigos, dos que até rapé ainda tomam. O tal rapé não passa de fumo torrado e moído; quem o aspira pelo nariz espirra – e parece que o gosto é esse: espirrar... Napoleão foi um grande tomador de rapé. Hoje pouca gente usa tal coisa, só os homens muito carrancas e conservadores como aquele compadre de Dona Benta.
- Pois quero experimentar, sim- disse a negra. – O coronel chupa esse rapé com tanto gosto que sempre tive desejo de ver se a marca é boa. – e assim falando tomou o pó que o menino lhe apresentava e sem desconfiança nenhuma aspirou-o. Assim que a negra fez isso, os outros fizeram o mesmo, inclusive o burro e... Mais nada! Veio aquele fiunnn no ouvido, e depois a tonteira própria do pó de pirlimpimpim, e todos perderam a consciência. Estavam voando pelo espaço com a velocidade quase da luz.
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