quarta-feira, 10 de junho de 2009

Viagem ao céu II

Súbito, perceberam que haviam chegado. Começaram a abrir os olhos. No começo nada viram. Tudo muito embaralhado. Por fim as coisas se foram aclarando e puderam olhar em torno. Estavam numa terra esquisitíssima, sem gente, sem vida, toda cheia de picos de montanhas em forma de crateras de vulcões extintos. Todos haviam voltado a si, menos Nastácia. A pobre negra, que pela primeira vez naquele dia aspirava o pó de pirlimpimpim, estava escarrapachada no chão, com os olhos arregaladíssimos – mas sem ver nem sentir coisa nenhuma.
-Temos de esperar que ela acorde- disse Pedrinho. – Parece que a boba tomou dose dupla...
Esperaram alguns minutos, até que a negra começou a dar mostras de estar voltando a si. Passou a mão pela cara, esfregou os olhos e, correndo-os em torno, disse com voz sumdia:
- Que será que me aconteceu? Amode que caí num poço...
- Não caiu nada, bobona. Você está conosco num astro qualquer no céu.
- No céu?!... – repetiu a preta, arregalando ainda mais os olhos. – Deixem de pulha. Para que enganar uma pobre velha como eu?
- Não estamos enganando ninguém, Nastácia - disse Pedrinho. – Estamos, sim, no céu, num astro que ainda não sabemos qual é.
O assombro da negra foi tamanho que não achou palavra para dizer. Nem o seu célebre “Credo”! ela murmurou.Quedou-se imóvel onde estava, a olhar ora para um, ora para outro, de boca entreaberta.
- Eu acho que isto aqui é o Sol- declarou Emília. – Apenas estou estranhando não ver nenhuma floresta de raios.
- O disparate está de bom tamanho! – caçoou Pedrinho. – Não sabe que o Sol é mais quente que todos os fogos e que se estivéssemos no Sol já estávamos torrados até o fundo da alma? Pelo que vovó nos explicou isto está com cara de ser a Lua – mas não tenho certeza. De longe é muito fácil conhecer a Lua- aquele queijo que passeia no céu. Mas de perto é dificílimo. O melhor é mandarmos o Dr. Livingstone a um astro próximo para de lá nos dizer se isto é mesmo a Lua ou o que é.
Uma pequena dose do pó de pirlimpimpim foi enfiada no nariz do antigo Visconde, o qual imediatamente se sumiu no espaço. Emília deixou passar uns segundos e gritou para o ar:
- É a lua ou não, Doutor Livingstone?
Mas nada de resposta. A distância devia ser muito grande, de modo que a vozinha rouca do Dr. Livingstone não podia chegar até eles.
- Que asneira fizemos! –exclamou Pedrinho. – Devíamos ter pensado nisso – que era impossível que a vozinha do Visconde pudesse varar a imensidão do espaço. Além disso- para onde será que ele se dirigiu? Em que astro foi parar? Há milhões e milhões de astros por essa imensidade a fora...
-Milhões e milhões Pedrinho? Não acha meio muito?- duvidou a menina.
- Pois é o que dizem os astrônomos. O espaço é infinito. Sabe o que é ser infinito? É não ter fim, nunca, nunca, nunca. Quem sair voando em linha reta por essa imensidade não volta jamais ao mesmo ponto. Fica a voar eternamente.
Emília interrompeu-o:
-Achei um jeito de resolver o caso de saber que astro é este. Basta fazermos uma votação. Se a maioria votar que isto é a Lua, fica sendo a Lua. É assim que os homens lá na Terra decidem a escolha dos presidentes: pela contagem dos narizes.
Não havendo outro meio de saírem daquela incerteza, fizeram a votação. Pedrinho foi tomando os votos.
-Você, Narizinho?
-Lua.
-E você, Emília?
-Luíssima!
-Eu, Pedrinho, também Lua. E você tia Nastácia?
A negra, ainda tonta, olhou para o menino com expressão idiotizada e respondeu:
-Para mim, nós estamos na Terra mesmo; e tudo que está acontecendo não passa de um sonho de fadas.
-Três narizes a favor da Lua e um a favor da Terra!- gritou Pedrinho-
A lua ganhou. Estamos na Lua. Viva a Lua.

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