terça-feira, 25 de novembro de 2008

Caminho



I

Tenho sonhos cruéis; n' alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...




Saudade desta dor que em vão procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!...




Porque a dor, esta falta d' harmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu d´agora,



Sem ela o coração é quase nada:
Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora.



Pessanha, Camilo. ‘Caminho'. Apud: Amora, Antonio Soares. Presença da Literatura Portuguesa. V. IV Simbolismo. São Paulo, DIFEL, 1969, pág. 77.



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