terça-feira, 25 de novembro de 2008

A cidade de Óbvio

É fácil localizar a cidade de Óbvio. Ela fica exatamente onde você esperava que ela ficasse e, inclusive, está identificada no mapa pela palavra “Óbvio”. Quem for de carro deve seguir as indicações na estrada até chegar onde quer ir: é Óbvio. Pode-se ir de ônibus, tendo o cuidado de pegar um ônibus que não vá para outro lugar, ou de trem, desde que se desça na estação certa. O nome da cidade, Óbvio, está escrito na estação com letras. Se o nome na estação for outro, não é Óbvio. É claro.

Em Óbvio tem uma praça central onde ficam a igreja matriz e a prefeitura. A igreja é usada para missas, enquanto a administração da cidade se concentra, convenientemente, na prefeitura.

Apesar de uma certa mesmice, as casas de Óbvio, todas feitas com material de construção, se distinguem por certos detalhes arquitetônicos, como janelas e portas que se abrem e fecham. Existem ruas. A cidade é cheia de lugares-comuns.


Em Óbvio conversa-se pouco. Primeiro, porque desde a fundação da cidade ninguém jamais teve um pensamento original e os assuntos se repetem. Segundo, porque as pessoas, quando se encontram, não precisam dizer nada. Em Óbvio está tudo na cara.Óbvio fica logo depois de Evidente para quem vai a Redundância.

Os principais produtos da região são os truísmos e as coisas feitas ali mesmo. Quando a temperatura baixa, faz frio, mas os termômetros sobem quando esquenta.E Óbvio tem uma peculiaridade quanto ao clima. Lá só chove no molhado.


Luis Fernando Veríssimo- cronista, jornalista e publicitário brasileiro. Em suas crônicas, sobressaem o humor e a crítica social.

Nenhum comentário: