segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Nilda Spencer

Este artigo foi escrito quando da ausência física da senhora Nilda Spencer no dia 9 de outubro de 2008 e publicado no jornal Valença Agora do dia 16 do mesmo mês.
Nilda Spencer, Celeste Martinez e Marina Rodriguez

“Ainda uma vez tu brilhas sobre o palco,
Ainda uma vez eu venho te saudar...
Também o povo vem rolando aplausos
Às tuas plantas mil troféus lançar...”


Castro Alves



Tentei construir um poema em seu louvor tal trino de pássaros na perfumada manhã de primavera. Tal intensas águas batendo sobre as pedras. Tal raio de luz que invade as janelas. Tentei por diversas vezes não conseguir por que era intensa a revelação de tua partida além da terra. Fostes para o espaço onde brilham as estrelas, Oh! Grandiosa Diva!


Viver intensamente cada momento como se fora o último, transitar pela vida compreendendo sua complexidade e amar o que fazia, aliás, fazer o que sempre amou, foram atributos sublimes da atriz baiana Nilda Spencer, que nasceu no dia 18 de junho de 1923 e faleceu na última quinta-feira, dia 9 de outubro de 2008 aos 85 anos, sendo 52 de profissão. Casou-se aos 17 anos com o americano Julius Clarence Spencer, que era primo de Shirley Temple. Do matrimônio nasceram Susan e Judy. No inverno de 1996 tive a honra de conhecê-la, inclusive visitei seu apartamento no Chame-Chame - Salvador, Bahia. Onde na entrada se vê um tapete com o nome: welcome! Na sala de estar um enorme quadro. Um auto-retrato belíssimo da senhora Nilda Spencer. O que mais me impressionou logo no primeiro contato foi sua dicção, caprichava na pronúncia de cada palavra, com tamanha sensibilidade e propriedade, que cada frase tomava a dimensão do sentir profundamente. Era uma exímia pianista com vários recitais não só no Brasil, mas nos EUA e na Venezuela. Nilda, falava com emoção. Seus olhos brilhavam constantemente, energizados pelo ímpeto de viver a arte, de viver a poesia. De sentir. Isso era constante. Ela sentia, por que era a própria arte em evidência. Dentre tantos trabalhos que participou, vale destacar: O Auto da Cananéia, sua primeira peça, estreada em 1956, texto de Gil Vicente, direção de Martim Gonçalves e sua penúltima: Ensina-me a Viver, onde viveu a personagem Maúde, texto de Colin Higgins, direção de Jose Possi Neto, em 2001. Na televisão, entre outros trabalhos, Rosa Baiana (1981), Tenda dos Milagres (1984) e O Pagador de Promessas (1985). No cinema, entre outros: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1998), de André Klotzel; Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), de Bruno Barreto, e Tenda dos Milagres (1975), de Nelson Pereira dos Santos. Integrou o quadro da primeira turma da escola de teatro da Universidade Federal da Bahia, onde mais tarde foi professora e diretora por quatro vezes. Sendo uma das últimas homenagens recebidas em vida pela atriz a da Escola de Teatro da UFBA, que inaugurou uma galeria e uma exposição de fotos com trabalhos da intérprete. Se a vida tem suas surpresas e muitas vezes desencantos, na vida da senhora Nilda Spencer, os momentos foram mais belos do que imaginamos. Por que ela conseguiu traduzir os códigos secretos desta imperiosa existência com a magia da arte, transformando os nossos momentos amargos em belíssimos espetáculos.

Celeste Martinez – escritora



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