nesse teu coração, pedra de sal
onde nada frutifica nem floresce.
Deixa assim: um sorriso permanece
depois que todo o resto, por igual
se aplaina sob os ventos da memória.
O vendaval
que passou por sobre a tua, a nossa história
transformando em planície, em areal
deserto e árido aquilo que afinal
tinha um relevo
definido, sensual,
contorno original,
topografia própria.
Sei que não devo,
que não deveria,
mas cravo inda mais fundo este punhal
e giro a lâmina à medida que a retiro:
não por mal
e nem por covardia.
É um movimento natural
do pulso, essa torção.
Aguardo em sobressalto alguma reação:
em vão.
Nenhum sinal vital se manifesta.
Já não há nada (ou nunca houve) nesse coração.
Mas não:
no fio do punhal,
um minúsculo cristal ainda resta.
Toco-o com a ponta da língua, com cuidado,
por curiosidade: sem saudade,
sem ódio.
(É verdade:
é mesmo puro sal de sódio.)
Betty Vidigal
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