segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Façam a festa
cantem e dancem
que eu faço o poema duro
o poema murro
sujo
como a miséria brasileira
não se detenham:
façam a festa
Bethânica Martinho
Clementina
Estação primeira de Mangueira Salgueiro
Gente de Vila Isabel e Madureira
todos
façam
a nossa festa
enquanto eu soco este pilão
este surdo
poema
que não toca no rádio
que o povo não cantará
(mas que nasce dele)
não se prestará a analíses estruturalistas
não entrará nas antologias oficiais
obsceno
como o salário de um trabalhador aposentado
o poema
terá o destino dos que habitam o lado escuro do país
- e espreitam.
Ferreira Gullar

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