quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Quadro: A hora da POESIA

Na 149° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 11 de outubro de 2009, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 KHZ AM ofertamos a leitura do poema: "Namoro a cavalo" de Alvares de Azevedo



Eu moro em Catumbi.
Mas a desgraça
Que rege minha vida malfadada
Pôs lá no fim da rua do Catete
A minha Dulcinéia namorada.
Alugo ( três mil reis) por uma tarde
Um cavalo de trote ( que esparrela!)
Só para erguer meus olhos suspirando
À minha namorada na janela...
Todo o meu ordenado vai-se em flores
E em lindas folhas de papel bordado
Onde eu escrevo trêmulo, amoroso,
Algum verso bonito...mas furtado.
Morro pela menina, junto dela
Nem ouso suspirar de acanhamento...
Se ela quisesse eu acabava a história
Como toda Comédia – em casamento...
Ontem tinha chovido...
Que desgraça!
Eu ia a trote inglês ardendo em chama
Mas lá vai senão quando uma carroça
Minhas roupas tafuis encheu de lama.
Eu não desanimei.
Se Dom Quixote
No Rocinante erguendo a larga espada
Nunca voltou de medo, eu, mais valente,
Fui mesmo sujo ver a namorada...
Mas eis que no passar pelo sobrado,
Onde habita nas lojas minha bela,
Por ver-me todo lodoso ela irritada
Bateu-me sobre as ventas a janela...
O cavalo ignorante de namoros
Entre os dentes tomou a bofetada,
Arrepia-se, pula, e dá-me um tombo
Com as pernas para o ar, sobre a calçada...
Dei ao diabo os namoros.
Escovando
Meu chapéu que sofrera no pagode,
Dei de pernas corrido e cabisbaixo
E berrando de raiva como um bode.
Circunstância agravante.
A calça inglesa
Rasgou-se no cair de meio a meio,
O sangue pelas ventas me corria
Em paga do amoroso devaneio!...
Álvares de Azevedo
Fonte da imagem: imagens.google
Fonte do poema: Luso poemas

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