Crônica de Lima Barreto lida na 139° edição do programa radiofônico ALACAZUM PALAVRAS PARA ENTRETER que foi ao ar no dia 02 de agosto de 2009, transmissão pela Rádio Clube de Valença 650 Khz AM.
Noticiam os jornais que a polícia prendeu dois vadios e, de acordo com as leis e o código, processou-os por vadiagem.
Até aí a coisa não tem grande importância. Em toda a sociedade, há de haver por força vadios.
Uns, por doenças nativa; outros por vícios.
Tem havido até vadios bem notáveis.
Dante foi um pouco vagabundo; Camões, idem; Bocage também; e muitos outros que figuram nos dicionários biográficos e têm estátua na praça pública.
Não vem, tudo isso ao caso; mas uma idéia puxa outra...
O que há de curioso no caso de polícia de que vos falei, é que os tais vadios logo se prontificaram a prestar fiança de quinhentos-réis, cada um, para se defenderem soltos. Como é isto? Vagabundo possuidores de tão importante quantia? Há muito homem morigerado e trabalhador por aí, que nunca viu tal dinheiro.
Deve haver engano, por força.
De resto, se não o há, sou de parecer que a tal lei está mal feita.
O legislador nunca devia admitir que vadios, homens que nada fazem, portanto, não ganham, pudessem dispor de dinheiro, e dinheiro grosso, para se afiançarem.
Ou eles o têm e obtiveram-no por meios e, portanto, não são vadios; ou, tendo-o e não trabalhando, são coisas muito diferentes de simples vadios.
Quem cabras não tem e cabritos vende...
Não sou, pois bacharel, jurista, nem rábula e fico aqui.
Noticiam os jornais que a polícia prendeu dois vadios e, de acordo com as leis e o código, processou-os por vadiagem.
Até aí a coisa não tem grande importância. Em toda a sociedade, há de haver por força vadios.
Uns, por doenças nativa; outros por vícios.
Tem havido até vadios bem notáveis.
Dante foi um pouco vagabundo; Camões, idem; Bocage também; e muitos outros que figuram nos dicionários biográficos e têm estátua na praça pública.
Não vem, tudo isso ao caso; mas uma idéia puxa outra...
O que há de curioso no caso de polícia de que vos falei, é que os tais vadios logo se prontificaram a prestar fiança de quinhentos-réis, cada um, para se defenderem soltos. Como é isto? Vagabundo possuidores de tão importante quantia? Há muito homem morigerado e trabalhador por aí, que nunca viu tal dinheiro.
Deve haver engano, por força.
De resto, se não o há, sou de parecer que a tal lei está mal feita.
O legislador nunca devia admitir que vadios, homens que nada fazem, portanto, não ganham, pudessem dispor de dinheiro, e dinheiro grosso, para se afiançarem.
Ou eles o têm e obtiveram-no por meios e, portanto, não são vadios; ou, tendo-o e não trabalhando, são coisas muito diferentes de simples vadios.
Quem cabras não tem e cabritos vende...
Não sou, pois bacharel, jurista, nem rábula e fico aqui.
Marginalia, s.d.
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