quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Um sonho no sonho de Edgar Allan Poe

Salvador Dalí

Este beijo em tua fronte deponho!

Vou partir.

E bem pode, quem parte,francamente aqui vir confessar-te

que bastante razão tinhas, quando

comparaste meus dias a um sonho.

Se a esperança se vai, esvoaçando,

que me importa se é noite ou se é dia...

ente real ou visão fugidia?

De maneira qualquer fugiria.

O que vejo, o que sou e suponho

não é mais do que um sonho num sonho.

Fico em meio ao clamor, que se alteia

de uma praia, que a vaga tortura.

Minha mão grãos de areia segura

com bem força, que é de ouro essa areia.

São tão poucos! Mas, fogem-me, pelos

dedos, para a profunda água escura.

Os meus olhos se inundam de pranto.

Oh! meu Deus!

E não posso retê-los,

se os aperto na mão, tanto e tanto?

Ah! meu Deus!

E não posso salvar

um ao menos da fúria do mar?

O que vejo, o que sou e suponho

será apenas um sonho num sonho?


Extraído de: Edgar Allan Poe Obras Completas - Nova Aguillar Editora


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