terça-feira, 4 de agosto de 2009

SOBRE A PERMISSIVIDADE DO OLHAR:


-Você tem um olhar permissivo, disse.
- Você diz imoral?
O teu olhar permissivo diz:
Eu concedo que você me olhe
Que você aprecie meu sorriso
Que invente histórias sobre mim
Mas só no espaço da virtualidade.


O teu olhar
Que envolve permissão
Que insinua permissividade
Autoriza o desfrute
O deleite
Consente pousar o olhar “sobre”
Mas só no espaço da virtualidade.


Entre o teu permissivo olhar
E o desfrutar do outro
Existe um infinito trilho
Onde percorre o tempo.
O tempo
Imprevisto
Impreciso
Impossível.


A concessão para usufruir a permissividade de teu olhar
Traz conexão.
O contrário,
É o trem no trilho que leva embora o tempo do milagre
O tempo que não retornará jamais


Entre uma conexão e outra
Entre uma desconexão e outra
Ainda existe o trilho que separa as plataformas “A” e “B”



O teu olhar nada tem de imoral
Ao contrário
Traz a nostalgia de um fragmento do passado
Que insisto em preservar
Mas que se esgota no cotidiano
E que só resgato no inicio de todas as tardes
Quando sigo para a estação
E lá te encontro do lado oposto
Porém
É neste aguardar
Que me deparo com teu olhar permissivo que diz:
Eu concedo que você me olhe
Que você aprecie o meu sorriso
Que invente histórias sobre mim
Mas só do outro lado da plataforma


E o trem passa
E o TEMPO PASSA
E nova desconexão.


Escrito por Celeste Martinez na madrugada do dia 03 de agosto de 2009 entre as 23 e 24 horas.

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